Esse não é como um dos textos habituais desse blog, é mais um desabafo mesmo. Sempre me orgulhei de ser brasileiro, nascer, ser criado e morar em um
país rico biologicamente e culturalmente, uma nação pacífica e tolerante e uma
orientação política que, após períodos obscuros de repressão, dá valor a
liberdade e democracia. Sim, sempre me orgulhei. Mas meu orgulho começou a se
transformar em vergonha.
Sinto vergonha por viver em um país que tem sua bancada de líderes
políticos formada por palhaços semianalfabetos, pastores evangélicos
interesseiros e toda uma corja de corruptos que usam seus cargos políticos para
beneficiamento próprio e de sua classe. Sinto vergonha por nascer em um país
que está andando na contramão do resto do mundo que acredita na democracia,
vendendo sua dignidade em troca de um desenvolvimentismo burro e que só
beneficia os que não precisam de qualquer benefício. Sinto vergonha de morar em
um país que negligencia os três setores mais importantes de sociedade, tratando
professores de forma marginal, empurrando policiais para a criminalidade e transformando
o acesso a saúde pública em uma tortura letal e sem marcas aparentes. Tenho
vergonha desse país que permite que deputados, ministros e secretários públicos
aumentem seus salários já exorbitantes para valores intoleráveis enquanto a
esmagadora maioria da população brasileira sobrevive abaixo da linha da
dignidade. Sinto vergonha por perceber que tudo isso está acontecendo, a mídia
sendo manipulada e você lendo esse texto não fará absolutamente nada para
tentar mudar o cenário atual.
A história continua... Hoje, 25 de abril de 2012, a Câmara dos
Deputados aprovou o texto-base do projeto que modifica o Código Florestal, com
pontos defendidos por ruralistas e sem as mudanças feitas a pedido do governo
na versão que havia sido aprovada no Senado. A proposta irá direto para a
sanção da presidente Dilma Rousseff, que tem o direito de vetar o projeto na
íntegra ou em partes. Não importa se a nossa populista presidente Dilma vai
aprovar ou não. O Brasil acaba de retroceder 20 anos nas políticas públicas
ambientais e isso já é mais uma vergonha. O simples fato de o projeto ter
passado pelo Senado e pela Câmara já demonstra em quais mãos está o nosso
destino. Enquanto o mundo aprende com as vozes da ciência e começa a tomar
coragem para tratar o câncer que estamos causando em nosso planeta, nosso
governo se torna o mais grave de todos os produtos cancerígenos.
Nossa política ambiental está beirando o absurdo, mas está usando
artifícios já bem batidos para evitar fazer muito ruído para não despertar o
gigante adormecido chamado povo. Tais artifícios são feitos através de jogos de
palavras e empurra-empurra. Cada lado diz uma coisa, cada interessado empurra o
problema para o colo do outro e assim cria uma confusão tão grande na cabeça de
quem só assiste que faz com que as pessoas desistam de querer se meter nesse
samba pra mudar um ou outro acorde. O atual governo começa a parecer uma
máquina do tempo bizarra e obscura, resgatando elementos seletivos advindos do
desenvolvimentismo tribal e sem limites da Revolução Industrial europeia, o
populismo de Vargas, a caixa preta de decisões da União Soviética e a
manipulação de informações da ditadura militar brasileira. Tudo isso com um
tempero bem brasileiro sabor ignorância. A atual política ambiental brasileira
é tão absurda que se não fosse tão trágica, serviria como enredo para teatro de
horror.
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